Aquele Gato!

Aquele Gato!



Foi precisamente no dia 15 de Março do corrente ano que, com minha mulher e demais família, fomos assistir ao piedoso acto de missa do sétimo dia da morte de meu querido genro.
Como é normal em família, passamos por casa de minha filha para lhe fazer um pouquinho de companhia, bem assim como a meu neto que, se sentiam inconsoláveis por a recentíssima perda, do marido e pai, respectivamente, como é óbvio nestes casos, pelos quais, infelizmente todos passam ou já passaram em algum momento da vida.
Seriam umas 11 horas da noite quando saí de casa de minha filha. Tinha meu carro estacionado a uns metros da casa dela, por sinal, bem visível da janela da sua cozinha, motivo por que, ela foi testemunha ocular do que vou narrar e se passou na rua comigo e com um gato muito especial. Tal como eu, ficou curiosa a olhar o que estava acontecer.
Caminhei em direcção ao carro e, repentinamente, surgiu um gato, no meio da rua, vindo não sei de onde, pois eu ia a olhar em frente e não o vi sair de lado algum. Ele apareceu ali como que por magia, (nem mais nem menos). A passo lento, veio direitinho em minha direcção, soltando mios constantes e plangentes até que, nos encontramos frente a frente.
Era um gato tirante a pardo, numa mistura de amarelo e branco. Talvez algum gato vadio, ou pertença de algum morador da rua, pensei, no momento! Parou junto de mim, sentou no chão a olhar-me, levantou uma das patinhas quiçá como querendo cumprimentar-me, ao tocar minha calça; seus olhos, lindos mas tristes, eram ternos, meigos, de uma transparência tão invulgar que, mais pareciam dois diamantes brilhando à luz dos candeeiros da iluminação pública.
Tinha um olhar contagiante aquele gato!...
Mas, o que mais me impressionou naquele felino, foi o “diálogo” que mantivemos durante uns breves minutos: eu acariciando-o com palavras, ele respondendo-me com seus mios constantes e, tentando até saltar-me para o ombro. Como fosse impedido de o fazer, afastou-se lentamente, circulou minha mulher que estava perto, e meteu-se por debaixo de meu carro, sem que mais alguém o tivesse visto.
Ao acabar de me confrontar com um caso para mim tão insólito por a maneira e dia em que ocorreu, não pude deixar de lembrar com redobrada saudade, uma pessoa que adorava gatos…
Soube mais tarde, por minha filha, que aquele gato, não era conhecido na rua dela como vadio, nem sequer era pertença de qualquer morador. Nunca mais foi visto! Simplesmente, desapareceu!...
Não me deixo dominar por superstições mas, lá que o “diálogo” entre mim e aquele gato me impressionou, não desminto.


Joaquim Marques



15/3/2011